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Picadas de insetos. Como detetar, tratar e prevenir uma reação alérgica

23 Jun 2024 - 08:30

Picadas de insetos. Como detetar, tratar e prevenir uma reação alérgica

Com a chegada do calor, aumenta o risco de sofrer picadas de insetos. Por norma, as reações a estas picadas são leves e inofensivas, mas há quem desenvolva uma reação local mais exacerbada ou até quem tenha uma reação alérgica generalizada, que pode levar à anafilaxia (dificuldade respiratória grave que pode ser fatal). Como saber se está perante uma reação alérgica e como tratá-la? É possível prevenir picadas de insetos?

Em declarações ao Viral, Natacha Santos, imunoalergologista e representante da Sociedade Portuguesa de Alergologia e Imunologia Clínica (SPAIC) na área da alergia a picadas de insetos, ajuda a responder a estas questões.

Como se manifesta uma alergia a picadas de insetos?

Natacha Santos começa por explicar que existem “muitos tipos de insetos diferentes – como mosquitos, abelhas e pulgas -, cujas picadas podem causar reações diferentes”.

É comum a saliva dos mosquitos (como as melgas) provocar “uma reação quase imediata”, que se caracteriza por “uma área de inflamação, vermelha, com um ‘altinho’, que pode provocar comichão”, adianta a imunoalergologista.

Em certos casos – por norma, quando estão em causa picadas de abelhas ou de vespas -, é possível que esta reação local seja mais grave. Por exemplo, “se a pessoa for picada na mão, o braço pode ficar quase todo inchado” e esses sintomas podem durar “dois, três dias e até uma semana”, esclarece.

Por outro lado, “dizemos que há alergia quando há uma reação mais generalizada”, ou seja, “uma reação sistémica”, refere Natacha Santos.

Isto significa, por exemplo, que, “se uma pessoa for picada na mão”, além da reação local, os lábios e os olhos podem inchar, pode “ter urticária e manchas no corpo todo”, avança a médica.

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Para mais, de acordo com a secção de perguntas e respostas sobre as alergias a picadas de insetos do site do Colégio Americano de Alergia, Asma e Imunologia (ACAAI, na sigla inglesa), neste tipo de reação também são sintomas comuns: “voz rouca”, “tosse”, “o inchaço da língua”, “dificuldade em engolir”, “cãibras abdominais”, “vómitos”, “náuseas intensas” ou “diarreia”.

Além disso, avisa Natacha Santos, “pode ocorrer uma reação mais grave, chamada anafilaxia”. Nesse caso, o doente fica com “dificuldade em respirar, a garganta apertar e a inchar” e/ou com “uma hipotensão que pode levar à perda de consciência”.

Segundo a especialista, as alergias a insetos são muito mais reportadas no contexto de picadas de himenópteros (como abelhas e vespas).

Aliás, num documento disponibilizado no site da SPAIC, refere-se que as picadas destes animais são “responsáveis por mais de 95% das reações alérgicas a insetos na Europa”.

No caso dos mosquitos, aponta Natacha Santos, os casos reportados de alergias são muito raros. Em Portugal, “temos uma pessoa reportada em 1783 casos de anafilaxia, que mesmo assim é acima da percentagem habitualmente referida”, justifica.

É tão incomum isso acontecer que, quando ocorre, em particular nos adultos, tenta-se perceber se há “alguma doença relacionada com o sistema imunitário que pode predispor as pessoas a terem reações de anafilaxia”, informa a médica.

Como se tratam as picadas de insetos?

No caso de reações locais comuns, pode-se recorrer a cremes “à base de anti-histamínicos”, que podem ajudar com a comichão e com a inflamação.

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No entanto, frisa Natacha Santos, “é preciso ter cautela na aplicação da maior parte dos cremes ou géis com anti-histamínicos”. 

Isto porque estes produtos “podem dar reações de alergia local quando expostos ao sol”. Para não se correr esse risco, avisa, “devem ser sempre aplicados à noite”.

Por outro lado, se a reação local for mais grave, é importante “limpar sempre a zona da picada com água e sabão, para não infetar o local”, já que “coçar pode causar uma infeção”, refere a imunoalergologista.

De seguida, pode recorrer-se a “pomadas à base de cortisona com anti-inflamatório, que podem ajudar a diminuir a comichão” e a combater e evitar o aumento do inchaço.

Outra opção viável são “os comprimidos e os xaropes à base de anti-histamínicos”. E, acrescenta, “se a pessoa estiver com dor, também pode tomar paracetamol ou um anti-inflamatório”, aponta Natacha Santos.

Se, de facto, se verificar uma reação anafilática, é preciso “administrar adrenalina logo no momento”, porque a vida da pessoa pode estar em risco.

Além disso, “todas as pessoas com uma reação grave devem ser observadas no serviço de urgência” de imediato.

Isto porque, explica a médica, apesar de, “na maior parte das vezes, uma dose de adrenalina ser suficiente”, pode ser preciso administrar outra dose.

No mesmo sentido, prossegue, estes doentes devem ser “encaminhados para a consulta de imunoalergologia, porque nos casos de reações mais graves a picadas de abelhas ou vespas existe tratamento com imunoterapia”, através de vacinas.

No documento da SPAIC explica-se que, por norma, o tratamento dura cinco anos, mas, em casos específicos, “poderá ser suficiente o tratamento de três anos e noutros será necessário fazer o tratamento para o resto da vida”.

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De qualquer forma, salienta-se, “as vacinas são eficazes na prevenção de novas reações após picadas em 91% a 100% dos casos de alergia ao veneno de vespa e 77% a 80% ao veneno de abelha”. 

Nos casos em que ainda ocorrem reações após a picada, por norma, “são de gravidade mais reduzida, comparativamente às que ocorriam antes do tratamento”, refere-se.

Como prevenir uma reação alérgica?

As picadas de mosquitos são as mais comuns (e menos inofensivas), mas existem várias medidas gerais que ajudam a preveni-las.

Em primeiro lugar, avança Natacha Santos, em caso de se estar num local onde há mais exposição a mosquitos, é essencial “usar roupa que proteja o corpo”. Pode ser “roupa fresca”, mas convém que se use “mangas compridas e calças”.

Em contexto de jardinagem, destaca-se no texto do ACAAI, “o uso de sapatos e meias e de luvas de trabalho evita picadas nas mãos e nos pés”.

Além disso, refere Natacha Santos, pode-se recorrer “a repelentes”. Segundo a especialista, “os mais eficazes são à base de icaridina ou DEET”. 

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Para mais, também se pode optar por produtos “à base de permetrina” que se aplicam na roupa ou recorrer “a mosquiteiros”, caso seja necessário.

Por outro lado, avisa a médica, ao contrário do que se possa pensar, “as pulseiras e velas à base de citronela não são tão eficazes como as outras substâncias”.

Noutro plano, em relação aos apicultores em específico, a imunoalergologista recomenda o uso do “fato completo de apicultura, com as mangas bem apertadas”.

Contudo, é preciso ter em conta que “os repelentes não funcionam para os himenópteros, nem os apicultores iriam usar algo que pudesse fazer mal às suas abelhas”. 

Seguir estas recomendações pode ser importante para a população em geral, já que “não há nenhuma forma de testar para saber se alguém vai acabar por desenvolver alergia” a uma picada de inseto.

23 Jun 2024 - 08:30

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